segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Amigo é coisa pra se guardar... - Parte I


Eu nunca pensei em ter um milhão de amigos, como cantou Roberto Carlos, mas é um propósito meu que os que tenho sejam verdadeiros. E graças a Deus posso dizer que tenho grandes amigos. Paulinho é um deles. Nossa amizade vem dos anos 70, quando a gente se reunia para tocar no mesmo "conjunto de lata". Vem de lá o nosso gosto pela boa música. Admiro o seu trabalho como cronista desde que li seus primeiros escritos em jornais da cidade. Depois, convidado por Edvaldo Morais, ele passou a escrever para o blog chaminé. Lhe fiz o convite para mostrar suas crônicas também aqui no JGE e ele nos mandou essa jóia. É a sua estréia nesse blog. Com certeza, outros trabalhos virão e outras meninas, com seus anéis, suas luas e estrelas por aqui passarão. Estaremos prontos para receber a todas elas. Muito obrigado pela presença!
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MENINA DO ANEL DE LUA E ESTRELA

Encontrei uma menina cuja beleza era notável, mas chamava também atenção o seu anel com uma lua e uma estrela meio ouro meio prata. Pela idade que aparentava ela não devia ter se espelhado na garota da antiga música. O anel era lindo, ela, lindíssima e aquele adorno me serviu muito para um início de conversa. Perguntei sobre a preferência estrelar e lunar e se tinha a ver com astrologia ou coisa parecida. A resposta foi evasiva, dizendo que usava porque gostava, achava bonito e deitou a falar sobre a vida pacata do seu interior e de como estava surpresa e feliz com o corre-corre da cidade grande. E nesta conversa jogada fora quando dei por mim e por nós, lá estávamos bem sentados numa sorveteria. Eu meio desajeitado com um Milk- Shake sujando a camisa e ela no seu habitat parecia querer rir daquele coroa abismado de sua beleza fazendo um sacrifício juvenil com um achocolotado. Ficamos amigos. Ela sim; eu não sabia se era isto, se conselheiro, se um paizão ou se um namorado quase vinte anos mais velho. Víamos-nos umas duas vezes por semana. Na praça, na saída do colégio, na praia e até numa igreja. Sim, porque ela acompanhava a beatice da tia que lhe abrigara na cidade. Eu estava meio obeso, tantas eram as pizzas, os guaranás, os sorvetes. Até andava esquecido dos happy hours com os amigos. Tambem tinha esquecido do divórcio recente que queria mesmo esquecer. Não tinha ligado mais para minha filha, pois os papos ingênuos agora eram dirigidos aquela deusa do anel. Deus me perdoe, estava me tornando um pai separado e omisso.Depois de meses, seis para ser mais exato, em pleno dezembro, resolvi dá um basta naquela relação. Eu estava louco de paixão e não tinha vergonha de assumir. Não era pecado, muito menos crime (ela tinha 19 anos). Resolvi dizer-lhe dos meus pensamentos prá lá de maldosos e de como esperava por um sim e um beijo. Do alto do seu sexto sentido ela não me deixou falar e disse ter percebido tudo e que me desejava como se fosse um dos seus colegas de escola e de idade. E neste dia que entrou pela noite se foram os sorvetes e bebemos vinho e champanhe e amamos o mundo ao redor e a nós mesmos como poucos.Dormi, e na madrugada abraçado as lembranças despertei daquele encontro mágico e li na tela de computador uma mensagem de carinho e despedida. Ela se foi e deixou claro, prá sempre. Disse-me da felicidade de ter me conhecido e de eu ter servido direitinho para que ela praticasse o tema de sua monografia – O relacionamento entre idades diferentes – Eu fui cobaia. Não, continuou no seu escrito, tava apaixonada, mas tinha o mundo inteiro prá trilhar e tinha odiado o meu vinho preferido. Preferia o sorvete ao lado do namorado do interior que lhe esperava para casar. Me virei chateado, mas feliz. No celular, outra mensagem. Era minha filha que reclamava da minha ausência, inclusive ontem dia do seu aniversário de 19 anos. Me virei chateado e infeliz. No chão estava o anel da meia lua,que bem podia ser cheia, nova e a estrela que sempre vive ao milhões. Eu é que estava sozinho de novo. (Paulo Roberto de França)


(Música incidental – Lua e Estrela – Vinícius Cantuária)

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