Não costumo fazer do Jovem Guarda (programa radiofônico e blog) uma porta para eu divulgar os meus "laços de família." Mas hoje peço permissão aos ouvintes e web-leitores para fazer essa justa homenagem ao meu pai que nesse domingo completa 88 anos. E ele é uma pessoa simples demais...
Daniel Ferreira da Silva. Nome de profeta bíblico, sobrenome de presidente da República. Mas ele mesmo é uma pessoa comum. Simples como a cidadezinha em que nasceu: a pequena e pacata Taipu. Menino como tantos outros, só não foi bom de bola. Também no seu tempo de criança as brincadeiras eram outras. Quando rapaz até tentou seguir os costumes da época, mas sem exageros. Chegou o tempo de batalhar por um lugar ao sol. E que sol! Do cultivo na roça ao fabrico do pão foi assim que ele literalmente botou a mão na massa, numa padaria de um amigo da família, o saudoso Frutuoso Martins. Nas suas lembranças, costuma falar que, enquanto trabalhavam, ouviam incessantemente o disco do Roberto Carlos em Ritmo de Aventura que o seu patrão tocava numa possante vitrola, sensação da época. “Seu” Daniel, assim como o cantor da Jovem Guarda, por aquela época também estava em ritmo de aventura e logo deixou a padaria para trabalhar na Rede Ferroviária. Suas primeiras experiências não foram nada fáceis e de cara pensou em desistir quando, sozinho, escalado para trabalhar numa estação do interior, num lugar praticamente desabitado, por vezes teve o seu almoço roubado pelas cabras que por ali costumavam pastar. Hoje com certo senso de humor fala desse episódio, sem, contudo perdoar as travessuras daqueles caprinos.
De volta a sua cidade, assumiu a função de guarda-freio, que desempenhou com muita dedicação. Todos comentavam do zelo que ele tinha com seu campo de trabalho. Nas horas vagas pegava uma enxada e limpava aqueles trilhos como se eles fossem parte da sua vida. E eram mesmo. Acredito que essa dedicação que eu tenho com tudo que faço herdei de você e da minha mãe. Para mim a melhor herança.
É. Mas hoje esse meu querido, meu velho, meu amigo está cansado. Do alto dos seus 88 anos seus ombros parecem não mais suportar o peso do mundo. Por vezes o encontro cabisbaixo, como se quisesse culpar-se por alguma coisa que fez ou que deixou de fazer. E eu costumo dizer: deixe de coisa, meu velho! Você não deve nada a ninguém. Sua missão está cumprida. E digo ainda: sabe aquele presidente que você achava que ia “colar”?! Pois é, não colou. Fez o que fez, foi cassado, mas está de volta, como se nada tivesse acontecido. E sabe aquele outro que prometeu fazer desse chão um paraíso?! Não fez, não. Mas continua por aí, iludindo a todos e inventando guerras. Ah, e aquela escola que você não pôde freqüentar, não liga não. Na sua escola da vida você aprendeu muito mais. E sabe... recentemente uma jovem universitária foi hostilizada por colegas só porque usava um vestido curto. Acabaram ficando eles e deixando todos nós brasileiros numa “saia justa”. Portanto meu pai siga em frente. Ainda há o que se viver. E se você se sentir alquebrado, que seja só pelo peso da idade, mas nunca por vergonha ou algum sentimento de culpa. Você já fez a sua parte.
Nesse Jovem Guarda Especial eu não vou tocar uma canção que fale de um amor maior que tudo, ou mesmo que fale de cabelos brancos. Escolhi uma música que também tem a sua cara. Fala de um moço que envelheceu, não sem antes ter vivido as emoções que a vida lhe proporcionou. Essa é a hora de reconhecer o que você representa para todos nós, familiares e amigos. E a sua história para mim assemelha-se com a história de todos os meus heróis. É mais uma história de alguém que deu certo porque sempre acreditou no amor. Você é um homem justo, um grande homem! Parabéns pelos seus 88 anos!
O Moço Velho
(Sylvio Cesar - Gravação: Roberto Carlos - Ano: 1973)
De volta a sua cidade, assumiu a função de guarda-freio, que desempenhou com muita dedicação. Todos comentavam do zelo que ele tinha com seu campo de trabalho. Nas horas vagas pegava uma enxada e limpava aqueles trilhos como se eles fossem parte da sua vida. E eram mesmo. Acredito que essa dedicação que eu tenho com tudo que faço herdei de você e da minha mãe. Para mim a melhor herança.
É. Mas hoje esse meu querido, meu velho, meu amigo está cansado. Do alto dos seus 88 anos seus ombros parecem não mais suportar o peso do mundo. Por vezes o encontro cabisbaixo, como se quisesse culpar-se por alguma coisa que fez ou que deixou de fazer. E eu costumo dizer: deixe de coisa, meu velho! Você não deve nada a ninguém. Sua missão está cumprida. E digo ainda: sabe aquele presidente que você achava que ia “colar”?! Pois é, não colou. Fez o que fez, foi cassado, mas está de volta, como se nada tivesse acontecido. E sabe aquele outro que prometeu fazer desse chão um paraíso?! Não fez, não. Mas continua por aí, iludindo a todos e inventando guerras. Ah, e aquela escola que você não pôde freqüentar, não liga não. Na sua escola da vida você aprendeu muito mais. E sabe... recentemente uma jovem universitária foi hostilizada por colegas só porque usava um vestido curto. Acabaram ficando eles e deixando todos nós brasileiros numa “saia justa”. Portanto meu pai siga em frente. Ainda há o que se viver. E se você se sentir alquebrado, que seja só pelo peso da idade, mas nunca por vergonha ou algum sentimento de culpa. Você já fez a sua parte.
Nesse Jovem Guarda Especial eu não vou tocar uma canção que fale de um amor maior que tudo, ou mesmo que fale de cabelos brancos. Escolhi uma música que também tem a sua cara. Fala de um moço que envelheceu, não sem antes ter vivido as emoções que a vida lhe proporcionou. Essa é a hora de reconhecer o que você representa para todos nós, familiares e amigos. E a sua história para mim assemelha-se com a história de todos os meus heróis. É mais uma história de alguém que deu certo porque sempre acreditou no amor. Você é um homem justo, um grande homem! Parabéns pelos seus 88 anos!
O Moço Velho
(Sylvio Cesar - Gravação: Roberto Carlos - Ano: 1973)
Eu sou um livro aberto sem histórias,
um sonho incerto sem memórias
Do meu passado que ficou
Eu sou um porto amigo sem navios
Um mar, abrigo a muitos rios
Eu sou apenas o que sou
Eu sou um moço velho, que já viveu muito
Que já sofreu tudo e já morreu cedo
Eu sou um velho moço que não viveu cedo
Que não sofreu muito
Mas não morreu tudo
Eu sou alguém livre
Não sou escravo e nunca fui senhor
Eu simplesmente sou um homem
que ainda crê no amor.
5 comentários:
Parabéns ao Sr. Daniel que do alto dos seus bem vividos 88 anos, com a simplicidade que lhe é peculiar, pode ser tão precioso exemplo para sua família. O parabéns se estende a todos os seus e em especial ao meu amigo Eliel, por sinceras e belas palavras. Que Deus abençoe o Sr. Daniel, permitindo que o mesmo permaneça por muitos ano entre nós. E que também continue a iluminar sua mente para nos proporcionar sempre bons momentos ao lermos suas reflexões.
Um abraço do amigo Moacir Ramos.
Moacir, muito obrigado por acessar o nosso blog e assim, com certeza divulgá-lo para os amigos. É um propósito meu ser original mesmo nesse tempo de pirataria. Agradeço também pelas palavras e o Além do Horizonte estará sempre aberto aos verdadeiros amigos. Valeu! (Eliel Silva)
Parabéns ao Sr. Daniel e família pela passagem natalícia! e ao Eliel pela homenagem. Parabéns!
Na manhã do domingo tive a oportunidade de cumprimentar pessoalmente o Sr. Daniel. Com um sorriso no rosto, mostrava-se feliz ao lado dos seus. Vida longa ao "profeta".
Edvaldo Morais
Eliel , a hitória do seu é muito bonita e me emocionou batante. Parabéns para ele e para você também por essa linda homenagem.Tudo de bom meu amigo. Solange Costa.
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